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9 de junho – segunda-feira.

 

O despertador tocou 5h da manhã porque ele começou a remar bem cedinho.

Eu que sempre dormi de bruços, remexo na cama entre meus dois travesseiros e acabo me virando pra uma posição inclinada, levemente de bruços, meio que intermediária entre deitada de lado e de bruços.

 

 

Camila que sempre fica quietinha pela manhã me deu um chute vigoroso – bem onde a barriga encosta na cama/travesseiro.

E outro chute.

E outro chute.

E outro chute.

E outro chute.

E outro chute.

 

Voltei pra posição de lado, sem nenhum ponto apertando a barriga. Camila sossegou.

Voltamos a dormir as duas.

 

 

 

 

4 de junho – quarta-feira.

 

Chegamos, entregamos os pedidos de exame e aguardamos na sala de espera.

Antes de todo ultrassom sempre rola aquela preocupação básica do tipo “será que está tudo bem mesmo, assim de verdade?”.

 

O médico nos chama, entramos, deito. Ele passa o gelzinho e – surpresa! – quentinho na barriga (tão melhor que o gel geladão dos ultrassons anteriores). A imagem aparece na tela e aparece a cabecinha da Camila. O médico explica que hoje faremos a morfológica de segundo trimestre para verificar como anda a formação dos principais órgãos do bebê. Ele explica cada estrutura enquanto analisa e mede.

– Aqui é a cabeça do seu bebê.

 

Mede todas as coisinhas da cabeça. Muda a imagem e ela aparece de lado, com as pernas flexionadas (naquela posição de yoga do ultrassom anterior), com os pés quase tocando o rosto. Ele analisa a coluna, desce mais um pouco, aparece as coxas dela.

– É uma menina mesmo?

 

Apesar de ter visto no último ultrassom que era uma menina,  quando contava pras pessoas que era uma menina, ouvi tantas histórias de “tem certeza? eu fui num chá de fralda de Larissa que virou Rodrigo” que queria uma confirmação.

 

– Pelo visto vocês já sabem o sexo. Sim, sua bebê é uma menina.

 

Ufa! Depois de tantos presentes de menina, como falar pras pessoas “ops, nos enganamos!”.

 

– Agora vamos ver as imagens transversais da sua bebê para verificarmos os órgãos.

 

Rins, fígado, estômago, coração, analisa o fluxo de sangue. Coraçãozinho batendo ritmado. Tudo certinho. Volta pro rosto, acha o osso do nariz, mede. Ela vira de frente pro ultrassom.

– Veja que sua bebê está colaborando, aqui está a boca dela e aqui estão os lábios.

Ele analisa os lábios, o céu da boca. Tudo normal. Depois analisa cada olho e procura o cristalino. Tudo certinho.

 

– Agora sua bebê está com a mão na testa. Ela está pensando na vida.

(Será drama queen igual à mãe?)

 

Muda a imagem.

– Sua bebê é uma lady. Ela está com as pernas cruzadas.

A mesma cruzada de pernas do último ultrassom. O engraçado de quando ela cruza as pernas é que ela vai entrecruzando as pernas até os pés, do mesmo jeitinho que faço. Ainda bem que é menina, penso.

Ele para a imagem em cada mão e conta os dedos. Um, dois, três, quatro e cinco. Agora os pés. O primeiro pé: um, dois, três, quatro e cinco. Procura o segundo pé e ela está segundo o segundo pé com as mãos. Ele balança o aparelho na minha barriga. Nada. Balança de novo. Nada. Balança mais um pouco e pronto, ela solta o pe: um, dois, três, quatro e cinco dedos. Certinho. Mede os ossos das pernas e dos braços.

 

– Agora sua bebê está fazendo abdominais.

 

Tudo dentro do normal.

– Agora vamos avaliar suas veias uterinas.

Ele aperta um pouco do lado direito da pelve. Analisa, tudo ok. Depois aperta um pouco o lado esquerdo da pelve. Na mesma hora olho pro Bruno e digo:

– Ai… ela me chutou…

O médico responde:

– Sim, estou vendo o pé da sua bebê aqui na imagem.

 

É estranho, mas toda vez que aperta algum ponto da barriga, ela chuta. Chuta o cinto, o cinto de segurança, minha mão, a mão do pai.

 

Por último, a avaliação do colo do útero, tudo normal também.

Ufa.

Saímos do consultório com os celulares em mão pra mandar notícias pros pais: sim, está tudo bem.

Olho pra ele:

– Viu? Ela não gosta de ser apertada que chuta!

Tão pequena, mas tão difícil não acreditar que já tem uma personalidade forte aí. Oremos.

 

 

 

 

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Depois do primeiro trimestre de muito sono, percebo que não é só o paladar e olfato estão mais aguçados.

É como se todos os sentidos estivessem super aguçados.

 

Entro na piscina sentindo como se a água estivesse abraçando todo o meu corpo. Caminho dentro dela sentindo a água passando por mim a cada passo.

Entro no chuveiro e sinto a água quente do chuveiro massageando minhas costas e minha cabeça. Agora meus banhos demoram mais porque fico cinco minutos imóvel embaixo da água só curtindo enquanto o corpo relaxa. Consigo identificar as dores do meu corpo, de onde elas vem, pra onde elas vão, qual sua intensidade.

 

Talvez esse aumento de consciência corporal já seja um começo de preparação para o parto.

 

***

 

A gravidez e a maternidade parecem uma licença prévia para que o mundo todo encha sua cabeça de “conselhos” e super dicas.

 

– É menina?

– Aham, Camila.

– Você sabe que ela vai fazer sexo, né?

– ???

(Será que filho menino não faz? – minha dúvida)

 

– Tá passando bucha no bico do peito? Tem que passar!

– Não pode passar bucha no bico do peito, viu?

– Come azeitona que faz bem!

– Não come azeitona que tem muito sal e faz mal.

 

***

 

Parece que o lado negro da maternidade é a tendência do momento.

No grupo de gestantes, no facebook, na internet, nas conversas, todos me dizem “todo mundo só fala do lado bonito da maternidade, ninguém fala o quanto é difícil e cansativo” e  então enumeram todas as mazelas da maternidade.

 

– Aproveita pra dormir agora porque depois vai ficar meses sem dormir!

– Agora é bom, espera pra ver quando nascer!

– Você não vai ter tempo nem pra pentear o cabelo..

– Você não vai conseguir sozinha.

– Não é nada fácil..

 

Mal sabem que hoje difícil mesmo é encontrar as palavras de como pode ser gostosa a maternidade – e, por isso, guardo com tanto carinho as poucas que me tranquilizam o coração.

 

***

 

Tem hora que dá uma ansiedade porque o tempo demora e queria que nascesse logo pra poder ver de quem ela puxou o nariz.

Tem hora que dá um susto do quanto passou rápido e que a fase da barriga poderia durar um pouco mais.

 

***

 

Quando me dizem que o amor que sinto por ela agora não se compara ao amor que sentirei quando ela nascer, sinto um pouco de medo ao pensar nesse amor tão falado que cresce sem parar. Será que aguentarei tanto amor assim de uma vez? Mas aí percebo que o meu amor que sinto pelo pai dela nem se compara ao amor que sentia no começo do namoro, nem mesmo àquele amor do dia do casamento que parecia não poder ser maior que aquilo e então fico mais tranquila.

Que venha sempre mais amor.

 

 

 

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12 de maio – segunda-feira.

 

Já passam das dez da noite enquanto eles conversam no quarto. Estou deitada e ele está debruçado na cama conversando contando como foi o seu dia pra ela. Conta da aula de remo, do dia no trabalho, dos planos pro futuro, das coisas que irão fazer juntos. Desde que descobrimos a gravidez que, volta e meia, eles passam a noite conversando.

 

Então ele encosta o rosto na barriga.

– Sentiu??

– Senti.

 

Enquanto ele fica com o rosto colado na minha barriga, Camila chuta a bochecha dele.

Várias vezes e só ali na bochecha.

Uma noite de conversas entre pai e filha.

 

 

 

– Olha! Não parece que a barriga tá mais estufada pro lado esquerdo que o direito?

– Sim!

– Acho que ela tá toda pro lado esquerdo.

– Parece mesmo, Mi.

– Amor, acho que nossa filha vai ser comunista..

– Por quê?

– Ela só fica pra esquerda..

 

 

 

 

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16 de maio – sexta-feira.

 

Depois de muita espera, dia de Godzila no cinema com os amigos.

Cada um equipado com sua pipoca mega e seu óculos 3D aguardando o tão esperado filme.

 

Depois dos chutes de Camila durante “cão de briga”, estávamos achando que ela surtaria em Godzila.

Começou o filme e Camila quietinha.

 

Até que entrou a cena de Godzila invadindo Las Vegas com a música Devil in Disguise ao fundo. Senti três chutes enquanto Elvis cantava.

– Sentiu?

– Senti!

 

Depois aquietou de novo.

Elvis foi e sempre será o rei.

 

 

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12 de maio – segunda-feira

 

Conversas no fim da noite.

– Hoje de tarde fiquei cantarolando pra Camila e ela ficou me chutando!
– Hummm.. deixe me ver isso melhor.

 

Deito de barriga pra cima, ele com a mão pousada sobre a barriga, começo a cantarolar baixinho. Ela fica quieitinha e, de vez em quando, dá uma deslizadinha muito suave, quase imperceptível.

 

– Deixa eu ver se ela é nossa filha mesmo!

– ?

 

Ele pega o mac, abre o youtube e começa a tocar Elvis cantando You´ve lost that lovin´feelin´. Ela fica bem quietinha. A melodia vai ganhando corpo, começa o refrão super dramático “you´ve lost that looovin´feeeliiinn´ohhhhhhh that loooooviiinnnn´feeeeeeliiiinnnn´” e sinto dois chutes super fortes no clímax da música.

– Sentiu??

– Senti!

 

Choramos de tanto rir.

Não consegui mais sentir ela depois porque não conseguia parar de gargalhar.

Elvis, o rei.

 

 

 

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8 de maio – quinta-feira.

 

Tem muito tempo que tava querendo assistir “cão de briga”, indicação de um amigo.

Eu deitada no sofá, ele sentado ao lado com a mão pousada sobre a barriga.

 

Drama de 2005, o enredo conta a estória de Danny, interpretado por Jet Li, criado desde criança como um cão de briga por um gangster para ser usado em cobranças e ameças. O passado de Danny acaba sendo revelado aos poucos ao longo do filme enquanto ele gradativamente começa a recuperar sua humanidade ao ser acolhido por um homem cego e sua filha. Um filme simples e tocante.

 

Na primeira cena de luta de kung fu do Jet Li:

– Sentiu?

– Hahaha, senti!

 

Na cena seguinte de luta de kung fu do Jet Li:

– Sentiu??

– Senti!!

 

E foi assim durante quase todo o filme: quietinha nas cenas normais e chutando nas cenas de luta.

– Amor, acho que ela está lutando kung fu dentro da barriga.

– Vamos ter que matricular essa menina em alguma arte marcial.

 

 

 

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6 de maio – terça-feira.

 

Consulta de 17 semanas e 6 dias.

A obstetra olha o resultado do meu exame de sangue e o ultrassom de 16 semanas – quando descobrimos que teríamos uma menina. Ela olha pra foto da Camila em 3D.

– Meu Deus, que foto é essa?? Ela tá fazendo jóia?

– Aham.

– Que foto linda!!

Sim, nossa obstetra é bem empolgada.

 

– A gravidez está indo de vento em popa! A partir de hoje, a qualquer momento você vai sentir o bebê mexer.

 

Já tinham me perguntado várias vezes se eu já tinha sentido o bebê mexer – é como se fossem borboletas no estômago. Mas a única coisa mais ou menos diferente que sentia era uma movimentação dentro de mim que nunca sabia ao certo se era o bebê ou se eram gases.

 

A obstetra foi ouvir o coração do bebê. Passou aquele gel horrendamente gelado, encostou o aparelhinho e o TUM TUM TUM TUM TUM TUM TUM encheu o consultório. Ela me olhou com os olhos brilhando e um sorriso de ponta a ponta do rosto.

– Olha! De primeira! Os bebês gostam de mim!

 

Ela mal terminou a frase, o som do coração parou.

– Foi só falar que ela se mexeu.

 

Quem será que ela puxou pra ser troll desse jeito?

Mexe o aparelho mais um pouco, TUM TUM TUM TUM TUM TUM TUM sacudindo o consultório de novo. Tudo normal. Logo depois que a obstetra tira o gel gelado da minha barriga sinto um chute vigoroso por dentro da minha barriga. Talvez Neu tenha razão e bebês não gostem que coloquem gel gelado em cima deles.

 

Fim da noite, estamos os três no sofá. Ele sentado, eu deitada ao lado com a mão dele pousada sobre a barriga. Colocamos música para ouvir e ele começa a conversar com a barriga. De repente, um chute.

– Sentiu??

– Senti, bem de leve.

Coloco minha mão sobre a dele pra pressionar mais a barriga. Outro chute.

– Sentiu de novo?

– Senti! Bem levinho.

 

Como se alguma perninha muito fina e pequena abruptamente – do nada – desse um baita chutão na sua barriga por dentro.

Bem levinho pra quem sente do lado de fora e bem vigoroso pra quem sente do lado de dentro.

 

 

 

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De todas as coisas da gravidez, a escolha do nome é a coisa mais difícil, tensa, complexa e complicada de todas.

É muita responsabilidade escolher o nome que uma pessoa irá carregar pelo resto de sua vida.

 

Eu sempre quis um nome forte. Pra ele, não podia ser nome composto e, de preferência, que começasse com uma das primeiras letras do alfabeto – pra garantir que estivesse na sala logo no começo da chamada. Nós dois queríamos um nome simples.

 

– Se for menina, que tal Tarsila?

– Não.

– Laura?

– Acho que não.. que tal Norma?

– Norma não.

– Por quê?

– Poxa, a gente já trabalha no MP, aí tem uma filha chamada Norma e depois, se for um menino, vai dar o nome de Athos?

 

***

 

– Vai ter nome em japonês, né?

– Mas não quero nome composto.

– Mas nome em japonês não é nome composto, são dois nomes. Um normal e um japonês.

– Hum.. vou pensar no caso.

 

***

 

– Se for menino, que tal Augusto?

– De jeito nenhum!

– Theo?

– Não.

– Se for menina, que tal Lis?

– Não gostei.

 

***

 

– Se for menina, eu queria que o nome em japonês tivesse “mi”, porque o meu “mi” é o mesmo ideograma do “mi” da minha mãe e queria dar um nome que tivesse o mesmo “mi” também.

– Por exemplo?

– Hum… como foi feito no Japão e lá tava nevando, podia ser miyuki. Porque Yuki significa neve. E aí “mi” é brilhante, radiante. Aí ficaria “radiante neve”, praticamente a branca de neve!

– Gostei! E se for menino?

– Hum… menino não consigo pensar em nome… na família tem uma tradição que dão ao primeiro filho um nome que tenha o ideograma “kiyo”. Meu bisavô era “kiyokuma”, meu avô era “kiyotoshi”, a tia do japão que é a primeira filha é “kiyomi”..

– Qual mesmo o nome do seu bisavô?

– Kiyokuma.

– Gostei! Kiyokuma!

– Ah não, Kiyokuma não!

 

***

 

– Se for menino, que tal Vicente?

– Era o nome do meu avô.

– Eu sei, acho bonito.

– Não sei se tô convencido..

– Ah, mas nenhum nome que eu sugiro, você gosta. =/

 

***

 

– Acho que comecei a gostar de Vicente.

– Então se for menino, pode ser Vicente?

– Sim!

 

***

 

– Mãe, se for menino, estamos pensando em Vicente.

– Vicente? Hum… Eu acho bonito Vítor.

– Mas já tem Vítor na família, mãe.

– Ah, é mesmo, né… acho Joaquim bonito também.

– E se for menina, estamos pensando em Clara Miyuki!

– Miyuki eu gosto! Mas Clara? Japonês não sabe falar Clara..

 

***

 

– E aí? Já escolheram o nome?

– Ainda não, estamos esperando descobrir o sexo.

– Mas já tem um nome pra menino e um pra menina?

– Mais ou menos.. se for menino, Vicente. Se for menina, Clara ou Camila. Mas ainda estamos procurando outras opções.. minha mãe sugeriu que a gente fizesse uma lista com vários nomes, mas tá difícil encontrar nomes que agradem os dois. TÃO difícil, que achamos melhor deixar pra discutir isso depois de descobrir o sexo pra evitar o desgaste desnecessário.

 

***

 

Ao sair do primeiro ultrassom, depois do descolamento:

– Amor, nem acredito que esse bebê sobreviveu a tudo isso!! Se for menino, acho que tem que se chamar Vicente mesmo. Vi na internet que Vicente significa “aquele que vence”.

 

***

 

– Que tal Catarina?

– Não sei…

– Se bem que Catarina Miyuki fica estranho, né? E se nascer com olho puxado? Não sei se combina Catarina com criança japonesa..

– Clara Miyuki fica melhor.

– E Camila Miyuki?

– Melhor, mas prefiro Clara Miyuki.

 

***

 

– Que tal Camila Naomi?

– Não! Eu gosto de Miyuki.

– Mesmo? Não acha que Camila Naomi fica melhor?

– Não, eu quero Miyuki!

– Tá bom. Você prefere Clara Miyuki e eu prefiro Camila Naomi. Vamos deixar Camila Miyuki, que tal?

– Gostei!

– Só falta o nome em japonês pro Vicente..

 

***

– É uma menina!

– Como vai se chamar?

– Camila Miyuki!