Filosofia de bar

– Meu sonho é conhecer Cuba antes do Fidel morrer!

– Fidel já morreu!!

– Já?

– É! Mas estão escondendo isso! Como fizeram com o Papa!

– Ah, sim!!

– Você reparou que nas últimas aparições do Papa ele sempre aparecia com aquela casinha em cima dele? Lá ficavam os fios que mexiam os braços dele!!

– Sempre desconfiei!

– Ele estava morto já há muito tempo!

– Tipo o Roberto Marinho, né? Já estava morto há tempos!

– Isso! O Sílvio Santos também!

– Mas eu entendo, porque as pessoas precisam de um tempo pra assimilar essas coisas.. precisam estar preparadas, não dá pra chegar e dizer simplesmente “O Papa morreu”!

– Exatamente!

– Veja o que acontece com quando as pessoas não são preparadas pra esse tipo de notícia.. tipo com a morte do Elvis, elas simplesmente não acreditam! E ficam achando que ela está viva e numa nave espacial!

– Exatamente!!

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Da série: eu já

 

 

 

Eu já tive um amigo hippie. Conheci numa mesa de bar, em uma conversa sobre “filhos de barãozinho” entre panos de brincos e penduricalhos psicodélicos. Depois disso, passavamos horas e mais horas de tardes sentados nas calçadas do centro da cidade conversando sobre a vida, sobre andanças, tatuando o corpo com henna e vendendo colares artesanais. E à noite, dividíamos mesas de bar, discutindo – enquanto ríamos – com os garçons que não entendiam nossa amizade. Ele interfonava e me acordava no meio da madrugada porque sua amiga chegou de viagem e tinha fome. Eu pedia pra ele criar um anel diferente com uma pedra azul grande. Ele acabou se apaixonando pela minha prima. E eu acabei passando horas intermináveis embaixo do prédio enquanto ele desabafava sobre sua paixão impossível e essas coisas mais da vida. E nossa amizade ainda continuou por muito tempo mais.

 

Apesar do hippie ser ele, nossa amizade se perdeu quando eu mudei de cidade. E é assim que me lembro.

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Convívio em conversas

 

– Ninguém aqui é normal!

– Como assim?

– É! Uma se treme toda de noite, outra compra um vestido amarelo com bolas coloridas..

– Ei!!

– Outra vive cheia de sacolas e faz comentários indiscretos, o outro vira a sombra da luz da morte que ilumina não sei o quê..

– Por motivos maiores!

– Só a nossa chefe escapa.. e eu!

– Você?

– Sim!

– Tem certeza?

 

***

 

– Ei! Te vi hoje!

– Eu?

– É! Estava no sinal fechado e vi um carro subindo a calçada! Pensei: só pode ser você!

– Era eu mesmo!

 

***

– Olha essa notícia sobre campeonado de papel-pedra-tesoura

– Eu sou campeão mundial de papel-pedra-tesoura!

– Sério?

– Com a mão esquerda! Com a direita é outro cara!

– Sério?

– Na modalidade com relógio!

…

– Tem certeza que você é normal?

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Lembranças

 

 

Para quem não a conhece ainda, o nome dela é Marcela. 21 anos, beirando os 22. Signo de virgem (terrível signo). A melhor palavra para descrever ela seria: IMPULSIVA. Podendo se substituir por COMPULSIVA sem alterar a descrição da pessoa. Ex colega de turma da facul e ex vizinha, mas ainda atual amiga! E está agora ao meu lado, lendo tudo o que está sendo escrito, por isso toda essa cautela ao escrever. Ela age agressivamente as vezes.
Complexa foi a definição que ela mesma acabou de se dar. Realmente tenho que concordar. Afinal não é qualquer pessoa que tem um caderno de confidências nessa idade. Um dia ainda vou escrever um livro com todas as histórias que passei com ela, que não são poucas. No final parecerá um livro de ficção.. mas é tudo realidade. Mas isso fica pra outro dia. Ela adora botar fogo nas coisas.
Nessa semana que se passou, queimamos jornais, guardanapos, folhas de caderno no tanque aqui de casa. E no final uma caixa de leite integral da Tirol. Caixas de leite da Tirol queimam com fogo verde. E no final guardamos restos de um jornal queimado como objeto de adoração para os futuros rituais.
Ela vai dormir aqui hoje a noite. Espero que não coloque fogo em nada.

 

Copiado de um antigo blog de 2003.

 

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Negociações de carnaval

 

 

– Tem ingresso?

– Só dois camarote. Tinha quatro, mas acabei de vender dois.

– Tá quanto?

– Oitenta reais.

– Hum.. precisava de mais que dois..

– Eu não sou cambista. A velha foi internada, aí tá todo mundo no hospital e eu vim vender os convites. Eu fiz até esses papelzinhos pra distribuir, mas nem precisei. Acho que tenho cara de cambista, eu parei aqui e as pessoas vem falar comigo.

– Estão anunciando na rádio, não sabia? Ingressos com cambista em frente ao Kone da Asa Sul!

 

– Minha esposa até disse pra eu ir ao show, mas não sou marido desse tipo. Olha, até uso aliança! Sou carioca. Porque eu já percebi que aqui em Brasília ninguém gosta de usar aliança. O cara tá lá no bar bebendo um choppe com a marquinha de sol da aliança no dedo.

– Pelo jeito você conhece bem o povo daqui, hein!

 

 

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Sábado de carnaval

 

 

Avaliação: ***

Perfeita na trilha sonora e nas imagens. Bonitinha na estória.

 

***

 

Saindo da livraria Cultura para o início da sessão.

– Olá, meu nome é Michelli e tem quase 24 horas que eu não compro um livro.

 

 

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Noite de sexta

 

 

Avaliação: **

Nada demais nas quase duas horas de cinema.

 

Sai da sala pensando: na vida, o que realmente importa é ter um juramento. A força do juramento. Ele é a constância e convicção para nos movermos na vida. Seja pro bem, seja pro mal.

 

 

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Algumas do carnaval

 

 

Jogando perfil 4 no final da noite de um domingo.

– Sou uma pessoa!

– Eu sei..

– Dica 8

– Sou adorado pela esquerda francesa

– Gramsci?

– Não!

– Eu! Quero a dica… 17!

– Minha esposa morreu uma ano após o nosso casamento.

– Putz.. não sei.. passo

– Dica 12

– Perdi o dedo mindinho num acidente de trabalho.

– Lula?

– Acertou.

– Ei, peraí! A esposa do Lula morreu um ano após o casamento deles? Então é por isso que ela tem aquela cara!

 

***

 

– Sou um lugar

– Dica 3

– Era um lugar decadente, mas passei por um processo de revitalização

– Conic?

– Não

– Ah, é! Lá ainda é decadente..

– Dica 9

– Hoje sou conhecido pela enorme quantidade de construções.

– Águas Claras!

 

***

 

– Sou um lugar

– Dica 9

– Possuo o Parthenon

– Setor Hoteleiro!

 

***

 

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Em noites de quinta

 

 

– Estou atrasada!

– Atrasada quanto?

– Que horas são?

– Cadê meu celular? Humm… dez e meia!

– Duas horas e quinze minutos atrasada..

– Vamos inventar uma desculpa.

– Isso! Que desculpa?

– Posso usar minha gastrite ..

– É! Vou te usar como desculpa! Você demorou no hotel, tava tomando banho, depois saimos pra comer algo por conta da sua gastrite..

– Sim, você pode falar que eu estava tomando banho em Goiânia!

– Isso! Banho + comida + trânsito = atraso!

 

Ao chegar, depois de errar o endereço, perder o celular arremessado em algum canto obscuro do carro  e mais alguns longos minutos de atraso:

– Até que enfim!!

– Olá pra todos..

– Onde vocês estavam?

– Fomos lanchar..

– Onde?

– 216..

– Sul?

– Isso.. tinha música ao vivo..

 

Então a suposta cúmplice, vítima de gastrite, que teria demorado horas no banho, olha para mim e diz:

– É … você realmente não sabe mentir…

 

 

***

E no dia seguinte:

– Mas por que vocês demoraram tanto?

– Fomos lanchar.. e tinha música ao vivo, começou a cantar músicas da minha época.. comecei a cantar junto e perdi a hora..

 

Eu e minha dificuldade em conciliar agendas, carregando amigos nessa confusão.

 

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Das quase…

 

 

– Ontem quase me apaixonei!

– Por quem?

– Um violão, um banquinho e uma voz linda!

– Por que não se apaixonou?

– Porque cheguei tarde, só cantou meia hora. Mais quinze minutos e teria pedido em casamento!

 

 

– Ele é solteiro, casado, gay?

– Ele é artista, ué!

 

 

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