– Eu perdoo as pessoas porque sou uma alma elevada e iluminada.
– Pois eu não sou assim.
– Você não perdoa?
– Seguinte, tem coisas que eu não perdoo porque acredito que existe uma função social por trás do “não-perdão”.
– Como assim?
– Vou te explicar melhor: as vezes, as pessoas fazem coisas MUITO erradas nesta vida. E se você é do tipo que perdoa TUDO, você está é compactuando com as coisas erradas do mundo. A pessoa vai lá e faz uma coisa MUITO errada com você, aí você sofre e tal, e logo perdoa. O outro nunca vai se dar conta do quanto pode machucar as outras pessoas e vai continuar leve e solto, repetindo eternamente suas mancadas e erros, esperando que todos sempre o perdoem, afinal, foi sempre assim na sua vida. Criamos pessoas inconsequentes agindo assim. Por isso, na vida, precisamos ser aquela ÚNICA pessoa de coragem que não perdoa. É a única forma das pessoas entenderem que quando se toma uma decisão, é preciso arcar com todas as suas consequências, sejam elas de nossa vontade ou não. E que alguns erros nunca serão perdoados. Será esse “não-perdão” que trará a consciência ao outro de que na vida é preciso agir com responsabilidade e integridade. Amadurecemos no momento em que entendemos que nem sempre as pessoas irão nos perdoar e é essa dor que evita a reiteração dos erros passados. Muitas vezes, eu não perdoo não é por MIM, mas é pela OUTRA pessoa.
E digo mais, perdoar é a mais difícil das virtudes.
É preciso muita sutileza, clareza e força para saber quando é preciso perdoar e quando não.
Além de que, com o passar do tempo, percebi que perdoar é muito mais do que não sentir ódio. A indiferença também é uma das facetas do não-perdão. Se digo “não sinto raiva de fulano pelo o que ele me fez”, mas não permito que ele volte a ter participação – por mais que seja como mero figurante – em minha vida, é porque, lá no fundo, ainda acredito que “fulano” não merece papel nenhum em meus dias, até naqueles sem graça. E se alguém não faz parte da minha vida, pouco me importa seus erros, que se tornam apenas dele e em nada afetam minha vida.
Passei muito tempo achando que tinha perdoado muitas pessoas em minha vida quando, na verdade, havia me aprimorado na arte de ser indiferente. Perdoar mesmo, só aprendi quando, há pouco tempo, uma pessoa conseguiu reconquistar minha mais profunda admiração. Só então senti o peso que é carregar rancor e mágoas por tanto tempo. Mas, como dizia anteriormente, perdoar é, das virtudes, uma das mais difíceis, pois não é um ato de razão, mas do nosso coração.
(Post dedicado a duas pessoas especiais em minha vida: minha eterna responsável do Cerejeira e àquela que é minha inspiração do que é ser uma diva)
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